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O mercado de trabalho do Distrito Federal está absorvendo cada vez mais detentos que cumprem regime aberto e semiaberto, um aumento de quase 180% nos últimos dois anos a partir de contratos fechados pela Fundação de Amparo ao Trabalhador Preso (Funap-DF) com órgãos públicos e privados.
As informações são da Agência Brasília, do Governo do DF.
"No início deste governo estávamos com 22 contratos e hoje temos 61. A gestão ajudou demais. Houve muito boa vontade do GDF e, principalmente, dos órgãos públicos, que tiveram a disposição de dividir seus orçamentos anuais com a contratação de reeducandos", afirmou hoje a gerente Psicossocial da Funap, Lucimara Vieira Rios.
Atualmente, uma média de 1,2 mil presos que cumprem pena no Centro de Progressão Penitenciária (CPP) ocupam cargos em quase todas as secretarias e administrações do DF. Das pastas do governo, o destaque vai para a Saúde, que abriga 350 deles, e pouco mais de 100 detentos estão locados em empresas privadas.
As dificuldades em ampliar esse quadro de funcionários nas corporações ainda são muitas, segunda a gerente, que aponta a discriminação como principal obstáculo. "Eles devem saber que a pessoa já está pagando pelo erro e que merece uma chance de mudar o destino", relatou.
O chefe do Núcleo de Materiais da Administração de Brasília, Jean Michel Brault, disse que existem 50 reeducandos trabalhando no órgão, e afirma que as dificuldades são pequenas em relação aos benefícios. "Os serviços prestados são iguais aos dos outros servidores, além disso, aprendemos com suas histórias de vida".
Brault relata que todos o questionam em relação ao perigo de se trabalhar com pessoas que cometeram os mais variados crimes, porém, segundo ele, o trabalho que exercem é mais importante que seus passados e que eles "têm medo, às vezes, é de outras pessoas e não dos reeducandos".
Todos os detentos contratados recebem uma remuneração chamada de "Bolsa Ressocialização", com valores que variam entre R$ 680 e R$ 980 – com direito a R$ 10 de alimentação por dia e vale-transporte – de acordo com o tempo de serviço, desempenho e assiduidade do contratado.
Independente do valor pago, a oportunidade de ingressar no mercado foi essencial para Carlos (nome fictício) dar o primeiro passo rumo a uma nova vida. Hoje ele faz faculdade de Direito, um sonho que pôde realizar assim que entrou no sistema carcerário, por meio da ajuda de uma pastoral.
Empregado há um ano e dois meses no arquivo da Administração de Brasília, o reeducando revela que a maior dificuldade que sofreu quando conseguiu um trabalho foi encarar a sociedade. "Muitos não te olham como uma pessoa que quer mudança, e isso faz com que muitos voltem a se delinquir".
Separado e com um filho de 11 anos, Carlos cumpre sua pena de 36 anos em regime semiaberto e afirma não se importar de voltar após o trabalho todos os dias ao CPP, pois tem a certeza que "a semente para um futuro melhor já foi plantada".
No caso de Sérgio (nome fictício), ver o sofrimento de sua família foi uma pena maior que os 30 anos de reclusão sentenciados pelo crime de roubo seguido de morte, emoção que o levou a definir outro rumo para sua vida e aproveitar a oportunidade de trabalho oferecida pela Funap-DF.
"Fazer minha mãe e irmãos passarem a humilhação de ter que me visitar naquele lugar, entrando chorando, aquilo mexeu muito comigo. Minha mudança veio por olhar os que amo pagando pelo meu crime. Nunca vi parente meu por trás das grades, o primeiro fui eu", desabafou o detento que cumpre regime aberto no CPP.
Sérgio cumpriu sete anos em sistema fechado na Papuda e, logo que conseguiu a progressão para o regime semiaberto, foi selecionado para uma vaga na Administração de Brasília, onde trabalha há dois anos. "Hoje posso dormir em casa com minha esposa, que conheci quando optei pela mudança".
Para ele, além da religião e do trabalho, o que o ajudou a se manter fora da criminalidade foi se afastar de antigas amizades para não cair na tentação. "Tive que deixar eles de lado e procurar outro caminho. Passei a conhecer outras pessoas, inclusive do trabalho, e mudei de endereço".
FUNAP – Instituída há 26 anos, a Fundação de Amparo ao Trabalhador Preso do Distrito Federal (Funap), tem como meta contribuir para a inclusão social de presos e egressos por meio de programas sociais nas áreas de educação, cultura, trabalho e capacitação profissional.
A gerente do Psicossocial da fundação, Lucimara Vieira Rios, disse que faz três visitas mensais ao CPP para preencher as vagas que os órgãos e empresas lhe enviam e que só não consegue uma função àqueles que realmente não se interessam.
"Em algumas ocasiões, o detento até se mostra disponível, mas não é compatível com o perfil das vagas que proponho naquela semana, porém, não demora 30 dias para que uma função se encaixe. Já outros, não querem o benefício de sair para trabalhar por conta de acerto de contas do lado de fora da prisão".
Além de ajudar na inserção do preso no mercado de trabalho, a fundação desenvolve um programa educacional em várias instituições prisionais do DF - por meio de convênio com a Secretaria de Educação -, que promove desde a alfabetização até o ingresso do detento no ensino superior.
Os internos também têm acesso, por meio da Funap, a cursos profissionalizantes e oficinas para a confecção de uniformes, reforma de móveis escolares e cadeiras universitárias, serralheria, panificação, serigrafia e produção de mudas, ministrados dentro do próprio sistema.
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